sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Do sofá [poema]

do sofá olhava a rua...
muita gente, muita agitação
e em casa apenas o silêncio corrosivo
de quem só aguarda passivo
à mercê da tortura duma mente criativamente criminosa
e a esperança de tê-lo mais uma vez 
me alimentava em ilusões
recorria a lembranças dum passado maravilhoso
pintava uma figura, escupia um sujeito, fantasiava, delirava
esboçava sorrisos débeis a fim de fugir 
da tortura de quem não tem notícias
quantas vezes o celular, o telefone, a internet, a janela, a porta
eram todos, era tudo, menos quem esperava
quantas vezes tive o impulso de descer de minha torre intocável
e ir ao povo à procura de quem não se sabe por onde buscar
ignorância total, indiferença absoluta
e toda a arrogância já tinha sido diluída
toda vaidade já tinha sido esfacelada
toda resistência, vencida
totalmente vulnerável, irreconhecível
até as lágrimas já tinham me abandonado
solitário, só me restava acreditar na Morte
e, num derradeiro momento, ouvi o inesperado
"Pai, cheguei! Que dia cansativo. 
O que foi, por que me olha assim?"
E o abraço forte foi a resposta que não queria ter fim
afinal, o adeus é  mais que certo; é inevitável
mas o encontro é tão incerto
quanto tentar medir o amor que está em outro coração.

Diógenes Pereira. SSA-ba, 16/12/2011





Onde se chega em doação [poema]

Já era dia
e o Sol se apresentava com seus primeiros braços ainda tímidos
mas inconfundíveis pelas frestas da cortina traidora,
 anunciando mais um dia somado à Vida
e o abraço apertava mais forte
como se tentasse burlar o tempo
congelando aquele momento de compartilhamento
sobre o leito, tinha apenas um corpo e uma só alma
fundidos pela vontade única de provar o sabor que
só se resgata por meio da servidão permitida em reciprocidade 
e os dedos iam sorrateiros, cheirando cada passo dado
fazendo do espaço além das pálpebras um mundo criativo em 3D
e a boca também acompanhava
vinha raspando seus lábios carentes sobre as costas
que os recebiam com o convite do corpo aberto
louco para ser explorado até a exaustão
pitoques de beijinhos salpicados por pequenos e intensos
puxões sobre a carne rija
que tremia, denunciando sua fraqueza ante a fome do predador
as pernas se entrelassavam, despenteando os pelos suados
e a dança ia completa de acordo com o som ritmado
das respirações ofegantes e dos corações em infarte desejado
a vontade maior era ter um por dentro do outro
mais próximos, o peito casava com as costas
firmando sua posição ativa
os sussurros falavam por si em gritos abafados
os rostos se encontravam
e completavam a festa ao notarem a vaidade da posse em
doação mútua
crescente, as sensações provocadas 
iam inflando mais e mais o que ia irromper em breve
e muito breve a explosão veio em simultâneo
era o gozo que se apresentava em pico
descansados, ambos rolaram para o lado
e o entreolhar confirmava o sonho vivido
 em desejos corajosos
e uma mão veio à face, toque sutil
em resposta, a boca se arriscou e assinou a gratidão
com um delicado beijinho sobre a testa e depois sobre os olhos
e os narizes se animaram em alternar passos entre si
e o mundo? esse era apenas aquele momento
nada mais importava a não ser a companhia
daquele que fazia de mim mais que um homem
O Animal gozado pela marca daqueles que
se jogam na descoberta do desconhecido
por meio do encontro incerto de conveniências distintas,
que, naquele momento, firmavam acordo comum:
prazer, simples assim: prazer!

Diógenes Pereira. Ssa-ba, 16/12/2011





terça-feira, 13 de dezembro de 2011

QUANDO O ENCONTRO SE PERMITE [POEMA]

despertei preguiçoso, num suspiro tão profundo,
chamando a cada músculo de acordo com a vontade deles,
sentindo toda a dimensão do corpo que anseia
e o sorriso manhoso dizia tudo e mais um pouco
e os olhos cerrados, nas entre linhas,
reviviam os momentos de entrega completa,
sem esperar, o desejo retorna
e quer buscar o que a vontade exige
e a alma logo sentiu a ausência do calor
num impulso único,  a mão correu o outro lado da cama
e nada encontrou
foi a vez dos pés procurarem em outras partes
nada outra vez!
o susto logo trouxe arrepios
num giro, explorei todo o quarto
onde está? para onde foi? o que aconteceu?
coração abandonou a paz daqueles que tem a cresça
cega de que possui o amor
e não acreditava: não foi um sonho! foi real! estava aqui!
senti, toquei, provei!
saltei num pulo e em dois passos,
as funções essenciais voltaram ao estado de quase paralisia
os pés não tocavam o chão
a respiração só buscava seu cheiro
que faz da mente lugar vazio de racionalidade
e o barulho renunciou sua voz
e lá estava, em pé, debruçado sobre a pia,
apenas conversando com o narciso
de cá, observava bobo o que em posse ilegal pertencia
aos domínios de minha fome
necessidade de compartilhar o que só se divide com aquele
que parece que não existe de tão raro que é
por trás, o encontro se consumou
os pelos eriçados de corpos perfeitos encaixavam as linhas sobre as curvas
 e o que não se ensina passou a ditar os movimentos
bem juntos, as mãos dançavam sobre corpo quente
e a face de barba rala marcava seu caminho
espetando deliciosamente o dorso, a nuca, raspando a orelha
dando a volta para que os lábios se encontrassem
em uma só boca
o ar já era vapor
e ali mesmo o espelho embaçado assistiu ao que muitos só
têm em delírios de sonhos e fantasias...


Diógenes Pereira. sSA-BA, 13/12/2011





quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Memorial de formação [textos acadêmico]


Universidade Federal da Bahia
Instituto de Letras
Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística
Rua Barão de Geremoabo, nº147 CEP: 40170-290
Campus Universitário – Ondina, Salvador-BA
Fone/Fax.: (71) 2636256   E-mail: pgletba@ufba.br



Diógenes Pereira da Silva



MEMORIAL DE FORMAÇÃO



SALVADOR, 27 DE OUTUBRO DE 2011






DIÓGENES PEREIRA DA SILVA




MEMORIAL DE FORMAÇÃO

Memorial apresentado ao Curso de Letras –      Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística, da Universidade Federal da Bahia,  como um dos pré-requisitos para a seleção do Mestrado Acadêmico.



SALVADOR, 27 DE OUTUBRO DE 2011


1 Trajetória até a Universidade

            Derradeiro entre cinco filhos homens, de origem humilde da periferia soteropolitana, com mãe dona de casa e pai mecânico – ambos com baixa escolaridade –, sempre tive grandes ambições, e poucos recursos. Estudei sempre em escolas públicas. E sonhei muito adentrar numa universidade de qualidade, o que me possibilitaria ter outra realidade daquela que era comum à minha família, amigos e conhecidos.
            Tentando concretizar uma ideia de unificar a língua portuguesa, esboçado ainda na sexta série do ensino fundamental, busquei de muitas formas resposta para aquilo que me intrigava: como a língua portuguesa poderia ser tão diferente nos países onde ela é falada se ela é uma só língua? Até que, no ano de 2002, sem ter mais como caminhar sozinho, enviei cartas para vários órgãos. Entre eles, Ministério da Cultura do Brasil e de Portugal, Academia Brasileira de letras, Academia de Letras da Bahia, Centro Cultural de Belém (Lisboa) e Ufba. Da última, tive resposta mais significativa. Lembro que quem me recebeu em entrevista foi a Professora Sonha Borba, que ficou admirada com minha obstinação. A partir daquela conversa, percebi que fazer letras era mais que uma opção; seria a escalada para um futuro melhor.
            Finalizando o terceiro ano do ensino médio, com apenas 18 anos de idade, decidi estudar para o vestibular. Cursava o ensino médio à tarde no centro da cidade e, à noite, ia a um bom cursinho intensivo por quatro meses – era estudante bolsista. – Também fiz um ótimo curso de português nos fim de semanas como bolsista, para o qual ia andando, cerca de 8 quilômetros de ida e volta.
Chegado o período, prestei vestibular para a Uneb, Ufba e Uefs no final de 2002 e início de 2003. Mesmo tendo muito medo da mistificada prova da Ufba, que naquele ano tinha uma temida inovação (a prova discursa na segunda etapa), consegui passar em terceiro lugar nela e em segundo na Uefs, ambos para o curso de Letras.

2 Na Universidade Federal da Bahia

A Ufba era um sonho que se realizara! Lembro que foi um dos melhores momentos de minha vida. Muito novo, bastante inexperiente, tudo era novidade. Muita coisa me deixava animado, contudo a alegria logo cessou devido às dificuldades.
Sem dinheiro nem apoio de familiares e amigos, não tinha dinheiro nem para o transporte diário! A solução foi ir andando, cerca de 10 km de ida; a volta era por meio de “caronas” no transporte público.
Dificuldades à parte, fiquei muito chocado com as aulas de Teoria Literária e muito animado com as de linguística. Até meados do curso, tudo indicava que concentraria meus estudos em língua. Contudo, meu perfil questionador e filosófico me conduziu para a Teoria Literária. Tinha me encontrado. Conseguia dar espaço para minha mente inquieta.
Consegui também arrumar tempo para os estudos e a militância estudantil. Fui membro do Centro Acadêmico.  Mantive bom nível nos estudos. Concluí meu curso em tempo hábil de 8 semestre corridos com bom aproveitamento.
Apenas o fato de estudar na Ufba me legou oportunidades. No primeiro semestre, provei a experiência de ser professor pela 1 vez, a qual não parou mais. Dei aulas em muitas escolas durante o período em que era estudante. Entretanto, a maior experiência foi ser auxiliar de produção do famoso programa de televisão Aprovado!

3 Após a formação acadêmica
             
 Logo após a formação acadêmica, a realidade me chamava. Tinha que conseguir um emprego já! Fui contratado para trabalhar como produtor de jornalismo na Tv Camaçari. Cerca de 4 meses depois, saí. Fui convocado pela Polícia Militar para ser soldado. Tinha acabado de passar no concurso, mas não demorei a sair de lá. Como o regime militar é extremamente rígido e autoritário, não me adaptei. Em seguida, fiquei cerca de 4 meses desempregado, estudando para concursos públicos. Por fim, passei a trabalhar na Escola Sartre COC. Dei aulas em outras escolas também, inclusive na Rede Pública de Ensino (Prefeitura e Estado).
           
4 Pretensões

            Ao longo desses quatro anos desde que me formei como Bacharel em Letras Vernáculas pela Universidade Federal da Bahia, sempre tive em mente a vontade e o desejo de prestar seleção para o mestrado e dar continuidade à carreira acadêmica. Impedimentos da vida, todavia, não me permitiram concretizar esse objetivo.
            Estive, sim, afastado do meio acadêmico durante esses quatro anos após minha formação em Letras, mas nunca deixei de ler, estudar, pensar, refletir e produzir. Escrevi e continuo produzindo muito, desde poemas, crônicas, artigos de opinião até contos, livros didáticos e romances (em construção) . Divulgo-os no meu blog: http://dionuance.blogspot.com/
            Levei muitos tapas da vida. A cada um deles, convencia-me que meu lugar é na Academia! Agora chegou o momento de tentar voltar ao rumo que escolhi desde que esbocei meu primeiro projeto acerca da língua portuguesa, lá na sexta série do ensino fundamental, há cerda de 13 anos.
Estou convicto de que este é o momento. Organizei minha vida de tal modo que o objetivo de ingressar e estudar no mestrado da Ufba é a maior de minhas prioridades a curto e médio prazo. Creio que tenho muito a contribuir para a pesquisa acadêmica com meu perfil crítico-analítico, sensível, criativo, inovador e questionador. Tenho fome de conhecimento e muita facilidade de aprender. Gosto de desafios. E creio que o mestrado na Ufba vai ser uma experiência vital para minha vida tanto profissional como íntima – realização como sujeito.
Conquistando o mestrado acadêmico na Ufba, a ambição é o doutorado, o pós-doutorado, o concurso público como professor universitário e a pesquisa a longo prazo. Sei que dificuldades me aguardam, mas desafios sempre foram presença em minha vida. Esse fato só me fez amadurecer e crescer. Medo, às vezes, tenho, contudo a vontade de vencer é muito maior.

NOTA: 

ESTE TEXTO FOI ESCRITO EM APENAS UM ÚNICO DIA, COM MENTE MUITO CANSADA. NÃO HAVIA MUITO TEMPO PARA ENTREGÁ-LO COMO UM DOS ITENS EXIGIDOS PARA A INSCRIÇÃO NO PROCESSO SELETIVO DO MESTRADO DE LETRAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA. LOGO, PEÇO DESCULPAS PELA SUA MEDIOCRIDADE CRIATIVA.