Muita gente vive dizendo que domingo à noite não tem nada que fazer a não ser ver TV e esperar melancolicamente a chata segundafeira de trabalho e/ou estudos. Puro engano!
Euzinho aqui tava acabado do sábado de regue e da tarde praiesca de domingo; quase indo pra casa. Então, um amigo muito bem intencionado (risos), me chama pra ir conhecer um lugar nada convencional na Periferia efervescentemente criativa e sensual de Salvador: São Caetano!
Início de noite. Saímos do Porto da Barra e fomos direto pro GS Bar, no Largo da Geral, São Caetano, terra de Xandinho. Barzinho simples no primeiro andar de um prédio construído sobre a orientação da sabedoria dos engenheiro sem diploma (os pedreiro), que predominam e dominam as laje e os puxadinho das periferia. De início, vazio e tímido. Logo, chegam gente e gentes. Deu de tudo: homem, mulher, ladrão, bofinho, bichinha, intelectual e nós. A zoada toma conta do ambiente. Mesmo assim, o show se inicia com a voz massa dum negão, acompanhado dum violãozin rouco dum magrelão... E entre alguns goles, rimos, gargalhamos, olhamos, fomos notados. Como um amigo meu sempre diz, o lugar é bafo!
Quando a noite já tava quase visitando a madrugada, começa o espetáculo feijoada da casa! Entra uma bicha esquisitérrima, magra que só ela, com seu olhar soberbo desnudador, e anuncia a entrada da primeira Drag Queen.
Linda, toda montada em seu look negro touchscreen, rastejando pelo chão, sendo puxada a correntes prum negão saradééérrrimo, ela vai até o palco. Nele, agaaarrra o microfone como se aquilo fosse algo tão inato como é pros gatos cagar e enterrar a sua bosta. A mulé cantou (melhor, dublou) performaticamente bafônica! Mesmo apresentando as curvas dos 40 anos, escandalizou a plateia com seu retorcer de bunda, pernas, coxas, braços e pescoço, jogo de olhares, atiçar de beços! Ela foi mais que um simples simulacro de Beyoncé; era toda Bioncê, se é que você me alcança, né, Dear?!
Mal tentava me recuperar do drama, chega outra ainda mais Shine in sexy! Uma verdadeira Lady Gaga aloirada em sua magreza sensual. Uma mulher! Travesti que um dia será transexual, basta rolar grana. Não tinha um único olho que não a lambia ávido! Ela era todinha wonderfull... Sonho de consumo de qualquer machão, seja homem, seja Maria Sapatão. Mas beleza à parte, ela mostrou pra que estava lá. Bate cabelo, ela barbarizou sobre o palco, que se tornou mesinha diante do salto 15 cm! Encantou a todos. Rancou de nós o que tanto queria: submissão diante de tanta beleza e ousadia. A traveca fedia deliciosamente a sexo. Irritava luxuriosamente nossa imaginação. Aí já sabe, né! Não teve uma calça e bermuda sequer que ficasse quietinha...
Pra finalizar a noite, volta à cena do GS Bar outro transformista. Saída de Valéria, a bichinha nos convidou a metralhar ela de risos... Era a personificação do burlesco! Toda montada no look Brega Oncinha mais Peruca Cabana de Praia de Piatã, lá vai ela se sentindo Toda-Toda, A Bala que matou o presidente Kennedy, com sua maquiagem La Petite Mort. Assim, tronchinha e desajeitada, tentava dar vida a uma personagem indecifrável por si só. Babado! Uma outra Tiririca! Escolha perfeita para fechar nossa noite!
E assim, depois de nos encantarmos, nos excitarmos e nos deleitarmos sobre o tapete do belo, a mesa do prazer e a cama do cômico, acaba nossa noite já na madrugada da temida segundafeira! Satisfeito, retorno pra casa pensando que Deus de fato é maravilhoso. Como eu poderia morrer sem conhecer o GS Bar?! Mais uma experiência daquelas que a gente nunca esquece porque está mais que registrada na mente, foi anexada ao ser que me construo e sou montado a cada dia.
Diógenes Pereira. Salvador, 16 de setembro de 2010.