quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Os excessos e as faltas! [Artigo de opinião]




Esta greve da PM na Bahia levanta alguns pontos ironico e sarcasticamente engraçados de tão absurdos e perceptivos! E, pra começo de conversa, discordo da postura da Justiça, a qual nega o direito de greve a Militares.  A PM tem, sim, o direito de greve, assim como toda e qualquer categoria trabalhadora.  Pode e deve reclamar por melhorias. É causa justa e legítima!

Todos nós sabemos que patrões, empregadores e o Estado sempre ou quase sempre não atendem às reivindicações de seus funcionários. O canal de discussões e negociações acaba se fragilizando, perdendo sua validade, o que faz irromper a inevitável greve, a qual é a última arma que o trabalhador dispõe para tentar alcançar seus direitos reivindicados. Logo, não vejo explicação plausível (nem muito menos justificativa) para se cercear o direito de greve a Militares, como os PMs.

É sabido de todos que há muitos governantes incompetentes, corruptos e insensíveis, os quais operam pelo interesse próprio ou daqueles que controlam o poder econômico, os ricos e influentes.  Em paralelo, sempre há o discurso de que o orçamento está apertado, que há responsabilidade fiscal a se cumprir, que existem outras prioridades quando o que se está em jogo é o aumento de gratificações, salário e a concessão de novas vantagens ao funcionalismo público.

Por outro lado, nossos políticos não pensam nem agem dessa forma tão "racional", "coerente", "responsável", "madura", "sensata" e "lógica" quando se dão aumento de salário ou acrescentam mais uma vantagem para si (entre tantas que já dispõem). Não há dúvidas de que há uma realidade de opressão e exploração do trabalhador tanto por parte da iniciativa privada quanto da pública!

Ato contínuo, em qualquer greve deve prevalecer o bom senso. Deve haver limites. Tem de ter o autocontrole, autocrítica e a perspectiva de começo, duração e fim do movimento insurgente, avaliando as causas e, principalmente, as consequências do levante, fazendo do movimento uma causa organizadamente justa.

Caso contrário, ocorrerá uma luta entre as partes, o interminável jogo de desgaste pra ver quem cansa primeiro, desiste e cede. E, enquanto isso não acontece, ambos os lados mantêm sua posição turrona, irredutível, teimosa, emperrando as negociações numa brutal guerras de braços. 

O desacordo entre PM e Governo do Estado da Bahia já está passado muito além do tolerável! Inevitável é questionarmos por que esta greve justamente no auge do verão baiano, nos bigodes do carnaval? Não creio que tenha sido mera coincidência. Houve, sim, uma vontade (ou má vontade, má fé mesmo) com a empresa de potencializar as possíveis perdas que a população teria caso não usufruísse dos serviços dos policiais, pegando todos de surpresa com o desígnio de obter, com mais rapidez, barganha e eficiência, o objeto de desejo dos policiais em detrimento do bem-estar de muitos!

A PM tenta supervalorizar sua importância. Quer mostrar para todos, a todo momento e de diversas formas (principalmente por meio da força e violência), que somos dependentes de seus serviços. E pior, alguns vândalos, que estão na corporação infelizmente (e não são poucos), trazem o terror ao cometerem crimes contra aquela que eles deveriam proteger: a sociedade.  Porque não me diga que homens encapuzados com armas em punho atravessando ônibus no meio de vias importantes da cidade são ladrões. Creio que sejam, sim, insurgentes da PM mal-intencionados, que querem obter seus interesses a todo o custo, passando por cima de tudo e de todos, de forma inconsequente, irracional e bestial!

A PM não pode se valer de sua importância como agente de manutenção da ordem social, nem muito menos ameaçar a maior festa popular do mundo, o carnaval (festividade que garante a alegria, a fantasia, a felicidade e o sustento de milhões), nem fazer de reféns os cidadãos para concretizar seus interesses em detrimento da sociedade civil! Quantos não perderam, estão perdendo e ainda poderão perder mais em decorrência dessa greve morosamente danosa?

E cadê o Governo do Estado da Bahia, um suposto governo de todos nós, que não  age de pronto a fim de acabar de uma vez com esse problema que tanto macula a imagem da Bahia e barbariza com a vida dos que aqui estão ou pretendem estar? Por que o Governado não para de atacar os grevistas, usando da justiça e da repressão militar - olha aí a grande ironia - para simplesmente sufocar o levante? Quanto mais lerdo é o Governo, mais a greve ganha força, se alonga, mais prejuízos são somados à vida daqueles que nada têm a ver diretamente com essa greve. E a população, hostilizada, sacrificada e barrada de seu direito de ir, vir e permanecer em paz, cria ódio, rancor e repúdio tanto em face do Governo quanto da PM em meio a esta palhaçada toda sem uma gotinha de graça.

Agora eu pergunto: é essa uma forma inteligente de a PM lutar pelos seus direitos?  É essa uma forma correta de o Governo lidar com os interesses de pais e mães de família que garantem a segurança de outros tantos pais, mães e filhos? O que estamos presenciando a cada dia é o perfil violento de uma Polícia Militarizada e seu abuso do direito de greve somado à estupidez e incapacidade do Estado. É, sem dúvidas, um atentado, um terrorismo de Estado contra o próprio Estado (melhor, uma parte significativa dele) e contra a sociedade civil.

 Se a PM considera justa sua causa – e creio que seja – é mais sensato ela ir e vir por outros meios a fim de trazer a sociedade civil para o seu lado, a qual, junto com a PM, pode e deve pressionar  o Estado. E se o Governo deseja mostrar sua força, seu poder e fazer valer sua postura de autoridade, deve agir com mais sensibilidade, buscando entender os insurgentes, equilibrar e equacionar os interesses conflituosos e conquistar a simpatia e o apoio dos civis por meio de uma atuação branda, inteligente e urgente, finalizando com o problema e satisfazendo a todos. Tarefa difícil, sim, mas não impossível!

 Por fim, creio que os culpados por este mal-estar todo são, igualmente, os policiais, o Governo da Bahia e a sociedade civil. Os primeiros pelos motivos já citados acima. O Governo do Estado por se mostrar insensível à causa, não cedendo aos policiais o que lhe é por direito, agindo com lentidão para dar fim a esse ácido conflito e deixando de cumprir com uma de suas obrigações: garantir a segurança  e a ordem pública.

E a sociedade civil por se manter passiva em face disso tudo. Somos nós, pois,  os grandes interessados com fim dessa grave. Por que, então, não estamos indo às ruas, recorrendo à imprensa e à Justiça, questionando a postura tanto do Governo quanto a da PM, exigindo uma solução justa, eficaz e imediata disso tudo?

Somos nós mesmos vítimas do algoz que nasce a partir de nossa inoperância como cidadãos ativos! Chega de ficar em casa com medo, pavor, degustando do terror! Basta de ver terceiros decidirem arbitrariamente pelas nossas vidas! Vamos parar com essa cultura da paz de galinhas suicidas prontas para serem abatidas ao bem prazer dos famigerados controladores do sistema! Levantemos e vamos já tomar parte do fato, mas não como meros espectadores, mas como amigos do Estado, da PM e amantes da vida e da justiça, sobretudo. Afinal, paz é preciso; mais: viver com dignidade é fundamental!

Por Diógenes Pereira. SSa-Ba, 08/02/2012. 

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