domingo, 5 de dezembro de 2010

O SAUDOSISMO [TEXTO ACADÊMICO: RESENHA]

              Saudade: vocábulo mórfico constituído por sete fonemas, os quais criam o significante que é único em língua portuguesa apenas (não existe em alguma outra língua!), ou seja, idiotismo. Essa unidade lexical possui um significado que exprime muito o que fomos e o que somos como povo, cultura, civilização, desde os tempos remotos do antigo Condado Portucalenses ao grandioso e paradoxal Brasil de então, num continuum rasgado e marcado por muita dor e sangue, e também beleza e alegrias.

                Será mesmo que tudo isso é passível de representação por uma palavra somente: saudade? Óbvio que não! Mas é a partir dela que daremos um importante passo a fim de compreender como ocorre a idiossincrasia da Nação Portuguesa em face de sua própria gênese, como mais uma possibilidade de manifestação do humano, em nuances de permissibilidade criativa, multicor e pluriforme.

                 Segundo um dicionário brasileiro da língua portuguesa, o substantivo feminino saudade denota: lembrança nostálgica de pessoa, situação ou coisa distante, ausente ou extinta; sentimento de pesar pela ausência de um ser querido; e lembranças afetuosas ao objeto de desejo ausente [adaptado]. Logo, chegamos à conclusão de que Saudosismo não é um mero produto derivacional de saudade; mais que isso, é a própria cara de uma Nação que vê, em seu passado longínquo, a esperança reconstrutora para um país, hoje, mergulhado no oceano de esquecimento de seu anonimato angustiante. A saudade daquele Portugal de glórias acompanha toda a história do povo português até a contemporaneidade, portanto.

                   Contudo, o que me incumbe, aqui, é entender o que foi/é o Saudosismo – redundantemente – Português. Justamente, é ele isto: o passado como tentativa de reconfigurar o presente com a marca de mais positivo; é o Sebastianismo Fênix, sempre retornante; é o (re)cantar Portugal de outrora, inventado em Os Lusíadas de Camões; é o movimento socioliterário que se inicia nos primórdios do século XX, cujo precursor foi o Poeta e Pensador Teixeira Pascoais.

                     O citado movimento Socioliterário, igualmente conhecido por “Renascença Portuguesa”, cujo órgão oficial foi a revista “A Águia”, tem suas origens alicerçadas num tempo em que Portugal, sob o estigma do Ultimatum, sente-se inseguro e pessimista, emergindo, em seu seio, todo o sentimento saudosista. Em consequência, muitos portugueses, principalmente escritores e outros intelectuais, deprimidos frente ao Portugal do indegustável presente, refugiam-se no passado de virtudes, com o desígnio de reconstruir sua Pátria sob os moldes da potência imperialista quinhentista-seiscentista dos grandes, deslumbrantes e mistificados descobrimentos.

REFERÊNCIAS:

MOISÉS, Carlos Felipe. Roteiro de Leitura: Mensagem de Fernando Pessoa. P. 11 a 24. Ática: São Paulo, 1996.

XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Língua Portuguesa. Ediouro: São Paulo, 2000.

Por Diógenes Silva. Salvador-ba, 19 de novembro de 2006. Parte integrante do trabalho de Literatura Portuguesa II, semestre 2006.2. Letras- UFBa.

ONDE ESTÁ (POEMA)

Às vezes, a Solidão é carinhosa

Não causa medo, é bem-vinda

Há outros momentos em que ela

Devassa a intimidade sem pedir licença

Sem cerimônia alguma

E mostra mais que carência

Exibe aos tapas e cuspidas

Necessidade de permissibilidade

A experiências por meio do Outro

Não só nos agoras, além e aquém

Deixando o Inconsciente fazer do Amor

Pista pela qual sua Conveniência fará

Inúmeras travessuras sem consentimento

Ou complacência do Ser que habita

Isso não é problema...

Pelo contrário, torna o Drama do gostar e ser correspondido

Ainda mais delicioso de se assistir

Seja de camarote, seja como contracenador

O complicado é justamente o Outro

Melhor, onde o encontrar

Miséria, onde está o Outro?

E a pergunta volta com resposta...

A tristeza é a companhia no momento

Resta Sonhar pelo Desejo que balança

Entre a resignação e a rebeldia

E os dias ficam longos

E as noites, mais silenciosas

E esperança aqui, inquieta.

O Carteiro vem, cumpre seu ofício

Acaricia Blanc e se vai outra vez...

Lembrei do dia do primeiro beijo...

Voltei a Sonhar...

Que o Sol não chegue tão cedo



Diógenes silva. Ssa-ba, 1-12-2010.