Frio. Faz frio com generosidade
E já não tem mais casaco acolhedor
É difícil olhar o espelho agora
Não encontro mais face alguma
Pior: não foi mais um que se foi
Nunca é mais um
Porque todos são uma sequência
de amadurecimentos nas experiências.
Deixou marca. Sempre fica. Olha aí uma coisa boa
Dor. Chorar também é bom.
Hoje, chorei com fartura duma única lágrima
E me escorri até o vazio atormentador
Ruim não é olhar em volta
Sempre tem gente e coisas, e coisas
Terrível é ver a si
E notar o que não se quer perceber
Vaidade se foi
Fôlego abafado
Boca que não tem vontade
Sim, é um agora
Mas ele não passou
É ainda um agora
E isso é foda
Os dedos no momento são ociosidade
A mente, maresia inerte num nada
Confuso que converge numa ilha de sensações
Que me esfolam de dentro até aquilo que foi forjado
Ser minhas curvas e retões
Silêncio. Silêncio outra vez.
Se permanecesse assim, talvez...
Não. O barulho é bom
E ele já está aqui. Tímido, mas está
Já o sinto mesmo ainda relutando contra a resignação inevitável
– Há coisa mais teimosa que esperança?
Ela também se cansa.
Deixa... Vai secar como tudo que não se alimenta
E não tarda visitar as Quintas.
Ainda não tenho o barulho como amigo
Mas logo terei
E outras vez serei água
Com vontade de ser chuva.
Rio precisa comer
E Oceano tem cede de Rios
Após a morte, sempre existe vida.
Tempo ao tempo para que o sorriso volte.
Ai como rir era bom...
Lembranças... Lembranças que não passam de só lembranças.
Mais uma foto no álbum da vida
Que venham os cliques!
Dio. Ssa-ba, 26.05.2010.
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