sexta-feira, 11 de junho de 2010

Após [poema]

Frio. Faz frio com generosidade

E já não tem mais casaco acolhedor

É difícil olhar o espelho agora

Não encontro mais face alguma

Pior: não foi mais um que se foi

Nunca é mais um

Porque todos são uma sequência

de amadurecimentos nas experiências.

Deixou marca. Sempre fica. Olha aí uma coisa boa

Dor. Chorar também é bom.

Hoje, chorei com fartura duma única lágrima

E me escorri até o vazio atormentador

Ruim não é olhar em volta

Sempre tem gente e coisas, e coisas

Terrível é ver a si

E notar o que não se quer perceber

Vaidade se foi

Fôlego abafado

Boca que não tem vontade

Sim, é um agora

Mas ele não passou

É ainda um agora

E isso é foda

Os dedos no momento são ociosidade

A mente, maresia inerte num nada

Confuso que converge numa ilha de sensações

Que me esfolam de dentro até aquilo que foi forjado

Ser minhas curvas e retões

Silêncio. Silêncio outra vez.

Se permanecesse assim, talvez...

Não. O barulho é bom

E ele já está aqui. Tímido, mas está

Já o sinto mesmo ainda relutando contra a resignação inevitável

– Há coisa mais teimosa que esperança?

Ela também se cansa.

Deixa... Vai secar como tudo que não se alimenta

E não tarda visitar as Quintas.

Ainda não tenho o barulho como amigo

Mas logo terei

E outras vez serei água

Com vontade de ser chuva.

Rio precisa comer

E Oceano tem cede de Rios

Após a morte, sempre existe vida.

Tempo ao tempo para que o sorriso volte.

Ai como rir era bom...

Lembranças... Lembranças que não passam de só lembranças.

Mais uma foto no álbum da vida

Que venham os cliques!



Dio. Ssa-ba, 26.05.2010.

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