Esquecida no velho-empoeirado armário entregue a barata, traça, mofo, a Fotografia entristecia a cada dia, e resistia à resignação corajosamente. Não se conformava em ser só breve momento feliz condenado a viver no passado da memória, o qual estava fadado a não retornar jamais. Chorava sem lágrimas, indagava-se aflita por que daquela sorte. Alguma coisa poderia ser feita. Ela precisava encontrar saída. Aí começou a nascer em si vontade indomável de tornar-se ação. Mas o tempo passava, e nada chegava em solução. Bastava-lhe se apegar à esperança, que nunca morre. E até o fim iria com seu sonho aparentemente absurdo.
Quando menos esperava, o terror! Resolveram fazer faxina na casa e descartar muita coisa inútil. Nessa, ela foi junta. Desolada, começa a sentir que sua sorte era iminente desgraça, até que uma mão suja entrou pela lada do lixo onde ela estava e a resgatou. Bênção. Ainda não era dessa vez que seria o fim; pelo contrário, era apenas o início...
Os restos catados pelo humilde e velho homem eram tesouros para ele. Daquilo, ele fazia arte. Fazendo a habitual triagem, quase não acreditou no que encontrara. Que foto mais linda, verdadeira obraprima. Exclamou. Como você veio parar no lixo, Minha Linda? Logo a limpou. Ficou ainda mais fascinado com sua sutiliza e beleza. E arrebatado por inspiração, passou a criar muitas cópias da Fotografia, cada uma com leves alterações nos traços, e igualmente perfeitas e lindas.
Finalizado o árduo e delicado lavor, deixou as fotos num canto e se foi com o sono. Ao despertar, correu ao encontro das fotos. Alívio. Elas estavam ali. Não tinha sido sonho. Admirando-as, ocorreu-lhe a ação gratuita de passar todas rapidamente em sucessão. Espanto! Movimento! A linda imagem que estava contida na Fotografia ganhou vida! Uma encantadora criança brincando com seu amável e fiel cão. A paz reinou absoluta. E Fotografia se espalhava em satisfação, pois mais que ter realizado seu sonho, tornou-se o ponto inicial da Sétima Arte. Nascia o cinema.
DIÓGENES SILVA
Nenhum comentário:
Postar um comentário