Muitas são as vezes pelas quais fico retado por apenas acordar cedo, e não me dou conta do quanto é lindo o dia logo no seu iniciozinho... Mauhumor. Stress. Indisposição. É o não permitir a? Também. Melhor, é um permitir à preservação, a ignorância desejada. Bom ou ruim? Ambivalência. Sou e estou o que me é eu a mim – certo? Hummm. – Não é à toa que o destino é o fazer e o nãofazer. Nessa continuidade, me perco e me acho em vários becos e vielas que no Entrelugar se fixam ou passeiam no MeiodoCaminho. Tanto o que foi ou que é podem ou poderiam ser-estar.
Outra ignorada é a tão medusanizada madrugada. Quase sempre a insônia e o medo do fantástico me levam à indiferença a diferente beleza que é a sua. Apenas em pouquíssimos instantes, eu noto o prazer nostálgico dessa dádiva que às minhas sensibilidades é permitida por mim(?) Mas por quê? Porque tenho sede de vida, tenho pressa em provar, a dúvida me conduz ao que poderia...
Neste raro toque de lábios, percebo minha devir, penso: muitas coisas no que se quer ser ou nãoser vidaexistência são o que parecem pelo o que outros “dizem”, e eu “acredito”. Ah distantes outros... Desconheço a origem deles, mesmo alguém gritando estar ali seu fundamento! Onde está a veracidade ou verossimilhança do que é transmitidoerigido? Citações, apenas discursividades reproduzidas em moldes ora criativamente distorcidos. Não tangencio os limites e as intempéries de outrem. Sou outrem? Também. De boca em boca, livro para livro, carta pela carta, decreto sobre decreto, ou via net e rádio+tv+cinema+imprensa+mershandising+criatividade ad infinitum, Verdadementira e Mentiraverdade são mais que forjadas: feitas indispensáveis, imprescindíveis ao que há! – A humanidade é mais que um espelho. Ai como adoro delirante a vaidade!
Coitada unidade sou eu entre supostos seis bilhões; e caminhando não paro até chegar à única ilusão: acreditar! Acredito. Acredito? Pelo menos acredito acreditar... Acreditar em coisas que minha memória diz que fiz ou não, acreditar em coisas que minhas experiências falam que outros fizeram ou não, as quais muito provavelmente não fui cúmplice, não vi, não toquei, não provei, não presenciei ou presencio, nem presenteei, nem sou presenteado.
Desde que me lembro, o sol sempre brotou e brota do horizonte que nunca chega, correu e corre de um estremo a outro, escalando o céu e depois escorregando nele até desaparecer outra vez no outro lado do horizonte que nunca chega. Meus olhos procuram a lógica do que é provado por eles: é a terra imóvel e o sol girante, satelitezando minha cabeça. Isso me parece incontestável, e foi por muitos anos fato comum para muitas outras pessoas (pelo menos as vozes de outrem dizem essa verdade). Contudo, em um tempo que não me lembro, vozes me indicavam que era e é a terra que girava e gira em torno do sol – e o pior: que a própria terra, tão firme, é movente em seu próprio eixo, o que produz dias e noites! – Loucuras! O que fazer de minha cabeça? Não posso mais acreditar no que me permito à intimidade! Não, me enganava... Nunca me permitir à intimidade de alguma coisa. Será?
À noite, levando meus olhos pro céu que é menos escuro na cidade, vi e vejo pontinhos brilhantes e, em cada tempo periódico, uma outra coisa que brilha, ora redonda e gigante, ora partida de um lado, ora partida de outro, ora não a vejo: lua. Ela, diferentemente do sol, vi e vejo girar entorno de minha cabeça e as vozes de outrem confirmam isso. E essas mesmas vozes contam cada coisa sobre ela que me deixa ainda mais achado em minhas eternas perguntas, que são como o horizonte que nunca chega: quanto mais caminho em direção a elas, mais me parece que não me movi e dilatante elas se deitam para todos os lados que me disponho.
Uma vez ouvi dizerem que o homem foi à lua lá em cima do céu negão. E ainda ouço essa história – engraçado, nunca ouvi dizer mulher, apenas homem; aliás, a mulher é quase uma ausência para aquilo que é maravilhoso, a não ser quando é conveniente para a voz que se diz homem. – Pisaram lá, deixaram pegadas no seu solo, fincaram bandeira. Fizeram isso na lua. É indubitável! Ai de mim se eu não acreditar nisso! A modernidade avançada e tecnologicamente racional e analítica me constrói retrógrado, arcaico e obsoleto, mais: perigoso! Bem, quanto mais sei o que não provei e provo e talvez nunca provarei, mais retorno às perguntas; e a dúvida me encaminha aos imagéticos e inepolpáveis limites indecifráveis do ser cada agora mais sensível, automatizado, céptico, crente, curioso, buliçoso, arrogante, humilde, humilhado, ora tolerante, ora déspota, ora indiferente, cauteloso, ansioso, inquieto, metamórfico, inconstante, leviano, incompleto, vazio, fragmentado, multifacetado, em crise e reconstrução constantes: o que a voz de outrem diz ser eu e eu desconfio ser... O espelho mente pra mim? Toda mentira é a outra verdade. Concordar ou acreditar, eis aí as escolhas? Estou preferindo a dúvida, pelo menos quando me levanto, ando, paro e deito.
Quanto mais vivo, mais acredito que saber não é bom. Que é a ignorância um caminho possivelmente mais fácil para se chegar ao que dizem ser felicidade! Ou não? Ai, pensar... Especular... Expectativas... Ansiedade. Onde vou parar? Será que vou parar? Será que desejo parar? Nem mais as distâncias são as mesmas! Já se falam em anos luz, algo que minha mente não concebe ainda, imagine minhas pernas! Kkkkkkkkkk. Sorrir é bom... Pelo menos disfarça um pouco minha alma inquieta que escuta tanta coisa que vem de tantos outros e outrem de não sei onde, nem sei quando, quantos.
Ufa! Cansa... Tantas coisas faladas, ditas, grafadas, feitas e/ou fingidas, simulacro de simulacros, tudo em pretérito ou em um presente que se diz real-idade. Virtual. Quimera. Os limes são tão tênues. Não. Ocorre limites, ou tudo é continuum? Certezas? Segurança? Dúvidas... Isso se tem de bocado. E ai de mim, sociedade, se não existisse a dúvida; coitado de nós, humanidade, se não houvesse a permissão à nãopermissão! Talvez a razão de nossa idealização de felicidade seja justamente a ânsia de descobrir, e descobrir, des-cobrir, cobrir, rir, ir.
Acho que nunca se esporrou, propagou tanto os feitos de vozes de outros e suas Verdadementiras e Mentiraverdades – agora paro: como sei disso se nunca estive no antes (pelo menos creio nisso) e talvez não esteja no pós; ou quem sabe nunca exista o antes, nem o pós, apenas o constante. – Ouvir, escutar, falar, dizer. Quem os faz? Muitos e também ninguém! Eis aí o outrem: uma voz em prisma que não sei de onde vem, quando partiu nem para onde de fato vai. Será que tudo é feito de “palavras”? Ou tudo não passa de boatos? Será que sou passivo ou ativo em face ao proferido pelas vozes de outrem, outros? Sei que sempre propago Verdadementiras e Mentiraverdades de outros; também remodelo, distorço, conservo, faço parte dessa engenharia. Informações, conceitos, definições e principalmente dúvidas me circundam, atravessam, estadiam e residem em mim. O mundo sempre será para mim uma arte de re-conhecer, conhe-cer, des-cobrir, en-cobrir, rir, ir em ato e ação (ou a nulidades delas) de re-conhe-cer o que nunca vivi eu para mim e de mim para eu, e, sim, de outros para o ser que sou, uma parte de um todo intrigante e confusamente em transa. Ainda bem que ainda tem papel, e mesmo com seu fim continuaremos a tecer. Onde? Aí depende do resultado no que acreditar. Acredito, mesmo quando não estou acreditando, ou penso no não, ou sim. Duvidar... Eis aí a estrada!
DIÓGENES PEREIRA, SSA 10.11.2007 A 03.01.2008
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