Riqueza, luxo, conforto, sofisticação, extravagâncias. Ondina, lindíssima, carismática e delicada jovem, encantava a todos com sua amável inteligência ingênua e sem igual. Mimada, não faltavam admiradores, amigos e pretendentes a moça. Ela era o modelo de beleza e felicidade para muitos. Quem não queria tê-la ou até mesmo sê-la?
Mas por detrás do sorriso encantadoramente polido de Ondina, o vazio lhe corroia a alma. A tristeza a dominava terrealmente. Mesmo admirada e amada por muitos, sentia-se a mais abandonada e infeliz das criaturas. Tudo a sua volta parecia ter vida e alegria, menos em si.
Quando se via ao espelho, desesperava-se em prantos ao não enxergar a beleza infinita e sem falhas que os outros encontravam nela. Jamais achava nas suas formas angelicais o fascínio que tantos poetizavam. Artificialidade era o que percebia, a qual tapava vergonhosamente sua sorte desgraçada em dor.
Sem poder desabafar com ninguém com medo de causar desapontamento, consumida pela farsa que pensava ser e guiada por pensamentos perniciosos, Ondina foi ao rio decidida. Colocaria um fim naquilo tudo. De alguma forma encontraria a paz. Num débil barquinho, desceu rio abaixo sobre as águas turbulentas e impiedosas. Despedindo-se de tudo pelo caminho, entregou-se à sorte da morte. E, sem cerimônia, água rompe casco da embarcação e logo faz delas naufrágio.
Seria o fim, se no caminho não houvesse um velho cajueiro à beira do rio mergulhando fortes e longas raízes e galhos sobre o rio, o que barrou Ondina do trajeto da destruição. De longe, um jovem pescador de pitu, com outra beleza e charme que só gente simples detém, a viu desolada, e correu heroico a fim de salvá-la. Chegara a tempo para provar da doçura da moça e ser enfeitiçado em eterno pela sua magnitude feminina. E Ondina, ao descerrar os olhos, viu o brilho nas meninas dos olhos do estranho; além: tivera a certeza da segura resposta para sua dor ali mesmo, na curva do rio. Esperança. Outra história se iniciava.
DIÓGENES SILVA
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