quarta-feira, 9 de junho de 2010

Insaciedade [texto abstrato]

O Deus que me corrói é a mesma mente ansiosa que me faz distinção. Ela não dá trégua, não descansa, não pára, não parece ter limites em suas ousadias e manhas... Até mesmo a exaustão física ela desafia diligentemente. Insônia. Recolhendo, atenta, migalhas em cada canto, funda feitos, casos, acontecimentos contundentemente verossímeis por prismas. Fragmentação. Irradiando possibilidades muitas de versões, convida outras realidades ao palco que é a criação. Dúvida. A cabeça faz translação em si mesma, penetra as lembranças, tortura os sonhos, encanta os traumas, excita os medos, garguela o saborodor da travessa infância, atrofia a desafiadora adolescência e acurrala a Exuriante juventude. Viela. No Sertão dos olhos, cultiva Ficção, arte nunca desnudada ao público outrem, cuja alma se exauriria ao não suportar o incrivelmente Nada, em dança licenciosa. Terror. Rios de sensações várias intercruzam-se, chocam-se, convergem para o fecundamento do único desígnio: Oceano Angústia. Aonde o corpo vai? Ao banquete de si. Com mãos trêmulas, pele em ardorcalor, olhos vigilantes, ouvidos atentos, intestinos irritados, abdômen dilatado, cabeça em expansão, sou apenas o Vulcão Eruptivo! Lavas são as conclusões em hipóteses, apenas especulações semparadeiro, as quais só plantam a Dor. Ai a Dor! Essa é como o suor, em todo corpo marca sua presença cicatriz! Território. Indubitável, sou eu a prisão sem’uros; é minha mente meu algoz tenaz; e eu, seu amado em correspondência plena. Casamento. Tudo que chega a mim é potencializado e se torna mais uma indispensável peça para colaborar e corroborar com a conspiração de minha imagem. Detratação. Elevo em ruína. Desgraça. Busco o caos. Drama, Tragédia. Minha vida é a epopéia do ser que resiste à calmaria poetizando em cantos. Cobra. Deseja o conflito onde o campo de batalha são os meus limites que reclamam a expansão. Guerra. Sufocado em minhas loucuras convenientes, finjo a mim que quero a indiferença. Aiaiaiai! Tento me subestimar à angústia. Como sou tolinho de Mim para Eu... O núcleo de vida não se contenta com realidade permitida. Desavenças. Nuances são requeridas! Blocos são mexidos, pisos são rachados, tetos são refeitos. Mudança. Parar pra quê? Hum... Em picos, esboço a paz. Momentos, creio ter o amor. O Espelho me espia, lambe meus contornos, me corteja. E eu, a Cortesã, Puta das Escadas, e das Ladeiras, e das Laje, me exponho gloriosA! Vaidade. Adoro sentir o degustar do desejo. Ver. Toque. Ai de mim se não tivessem os carros, as vitrines, as poças, os jarros e seus brilhos e reflexos... Delírio. O gozo expulso corre por mim todo! Sorrio em tangência de felicidade... Creia! Ram! Uau, como estou Alice! Kakakakaka! Queda. Quem disse que água fria acorda? É nela que mergulho no mergulhado: minha mente. Cama. Sim, adoro um tapa na cara. Peço-o sempre. Meu rosto é refeito a cada desconfiguração. Vai entender... Sei que sou a única espécime de minha espécie. Logo, só encontro em mim o cheiro de Clerice: animais de mesma espécie se reconhecem pelo cheiro. Eis aí a energia da insaciedade. Nunca pintei um quadro meu... Acho que já é hora. Cadê o pincel, a tinta? A tela já tenho. Olha um gato lindo ali!


Por Diógenes Pereira. Ssa, 16 de fevereiro de 2008.

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