quinta-feira, 10 de junho de 2010

à margem da resposta [TEXTO ABSTRATO]

Às 20:30h, estou vivenciando outra forma de saborear o choro. Não são as lágrimas que descem do rosto; é a imagem que se desmancha ante o espelho vaidoso que rabisca P-R-A-N-T-O. As perguntas dividem espaço e importância com as acusações. E mesmo assim vasculho, na razão, colunas nas quais possa se sustentar o que se diz Amor Próprio, e é a pujança do inconsciente que empurra o orgulho ao suicídio. O que fazer quando é a acusação injusta o pericárdio que reside no peito? A quem recorrer quando a única prova da inocência habita apenas o consciente particular? O que esperar do ofendido enganado senão o ódio em morte? Há prazer na madrugada, na manhã, na tarde, na noite, aqui, ali, lá? Inimaginável ao outro é como as leis da introspectividade se retorcem de maneira distinta na vastidão labiríntica que é o corpo daquele que carrega os escombros do condenado sem culpa verdadeira.

Deitar, dormir e acordar sentindo ao lado, próximo e distante, o toque da rejeição por parte daquele em que se foca a atenção dedicada evoca mais que ruína aos desejos e sonhos, traz a vontade do nada em alma. Ato contínuo, ser odiado por quem amo só é pior em face da compreensão maximizada que há no inocente esclarecido, a qual fomenta a sensibilidade a tal ponto que consigo esboçar imaginação do outro como co-vítima. E esse outro estrangulado sente-se decepado ao deparar-se com a figura tosca daquele que um dia pensara ser a continuidade de seus sonhos nas dimensões do real. Como deve estar agora sua garganta? Ele vê o amado como o demônio em trejeitos humanos, o qual não só brincou com seus sentimentos; além, iludiu a si ao tentar ser humano em perfeição. Será que essa pessoa terá a capacidade de amar outra vez? Será que ela conseguirá se recuperar desse horrendo ataque à sua esperança de se ampliar na cumplicidade de um outro? Não sabemos. Por ora, o que sei é que sou apontado como o criador de tudo isso, mesmo tendo a certeza de que sou vítima e inocente.

O que a mentira não provoca... É justamente por causa da engenhosa mentira articulada, alicerçada, executada e mantida por criatura novelesca em maldade que, no instante, sou o berro não levado a sério. Melhor, sou sentido como a palavra cínica em total potência. Logo, a mentira rouba de mim toda verdade e me faz o ser mais terrível, o algoz para aquele que tenho carinho. Eis aí a beleza do mal: construir a desgraça a partir dos veículos que absorveriam o inocente. Não posso dizer mais nada, portanto. À margem da resposta fui abandonado. Falacioso já fui feito. Tudo que sai de mim, mesmo tendo a corrente verdade, me leva à morte, uma outra versão da morte em vida sem-graça. Nem acesso ao que me condena fui permitido. O que me resta: gritar sem-parar e sonhar com ouvidos, ou me contentar com a inquietude do silêncio do inocente? O tempo trará a verdade, e com ela a paz se estabelecerá sobre as ruínas do que foi abortado. Jamais assumirei o que não fiz. Carrego comigo a culpa do inocente injustiçado. O telefone não toca...


Diógenes Pereira. 22.09.2008

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