quinta-feira, 10 de junho de 2010

Não tem como ignorar [crônica]

Já ouvi muita gente falar que dia de aniversário é mais um dia comum. Até poderia ser se alguém conseguisse ser indiferente a ele por completo, não se lembrando dele por um instante que seja ao longo do dia, não esperando que outros se lembrem também e venham lhe prestar alguma forma de homenagem. Não dá! Ficamos, sim, na expectativa, mesmo que minúscula, apática e frustrada. Queremos ser notados. Desejamos a atenção alheia, principalmente daqueles que estimamos. Precisamos nos orgulhar de algo em nós, aquilo que atrai o outro, que nos faz ser admirados, amados, respeitados e até mesmo temidos – a quem goste de trocar o amor pelo temor. Prazer se sente de várias formas. – inflar o ego, mesmo que um pouquinho só (não precisa ser um baiacu, não), é necessidade de todos. E justamente o dia de aniversário é um ótimo momento para estarmos em evidência. Quem perderia essa chance? (risos)


Por incrível que pareça, há muita gente que tenta pensar e força querer que o dia em que se completa mais um ano de vida é mais um entre os milhares que já gastou. Os motivos pra isso podem ser muitos, como: desilusão, depressão, dor, sofrimento, frustração e até conveniência! Enfim, mesmo com algum problema ou algum desejo que pareça – e até é – estranho para muita gente, a luta para tentar esquecer o níver é em vão. Não tem como ignorar esse dia único. Ele só acontece a cada 365 dias! Mexe, sim, muito com todos nós. Para alguns, ele traz sentimentos, sensações e lembranças boas e muito boas; para outros, um passado-agora terrível e extremamente doloroso. Não importa como e a intensidade. O fato é: ninguém está livre da ansiedade provocada pelo dia de aniversário. Senti isso na pele.

Na semana que antecedia meu aniversário, eu já estava muito ansioso. Detalhe, eu geralmente passo a ideia de que sou meio que desligado dessas coisas (mentira! – Risos). Só pensava no dia e o que eu iria fazer. Dois dias antes, eu já nem dormia direito. Na véspera, insônia monstro. No dia, ócio total. Nem querer e ir trabalhar eu quis e fui. Simplesmente, com a cara mais lavada, liguei para chefe e disse que estava com disenteria apocalíptica (assim mesmo, com todo o drama do mundo) e que não poderia sair de casa. Se ela acreditou ou não, isso nem me importava. Queria era my Day off na tora mesmo (risos). O dia precisava ser meu. Eu tinha que fazer o que queria: NADA! E nada fiz. Só fui malhar, assisti TV, li algumas coisas, gastei a net, fiquei à merda. Nem aí pra nada. Bem, também não foi tanto.
O dia inteiro entre idas e vindas de um cômodo a outro da casa, eu ia olhar o cel, o Orkut, o Facebook, o Twitter, o MSN e até a caixa de correio olhei toda hora – vai que um(a) romântico(a) de plantão resolvesse mandar uma carta pra mim à moda antiga. Vai saber. Muita coisa é possível. Não podia deixar uma possibilidade sequer de lado. Todas eram dignas de nota. – Ficava na completa expectativa de saber quem lembrou e quem ainda não se tocou que era o MEU dia! Pior: quando percebia que aquela pessoa mais estimada ainda não tinha me ligado ou mandado alguma mensagem, ah... Aí que a ansiedade pirava mesmo! Será que o desgraçado e a miserável não vai lembrar que hoje é meu níver? Nem uma ligaçãozinha, nem um sms com um simples parabéns, nem um recadinho sem sal na net. Impossível! Como pode tanta insensibilidade? Quando via, o alívio chagava. Suava, viu! Foi um dia tenso. Felizmente a noite chegou.

Com a noite, o dia de tormentas chegava ao seu ápice. Era o momento da consagração. Amigos reunidos. Todo mundo pagando pau para mim. Que maravilha! (Risos) Num restaurante carérrimo, novo espaço de badalação da City, armei meu palco. Não poderia ser em qualquer lugar que iria comemorar meu dia, né? Tinha que dar o melhor para mim. Afinal, não é todo dia que a doméstica vai à boate. Era o dia de esbanjar, gastar o que tinha, o que não tinha e o que ainda acreditava que um dia ia ter – sabe lá quando! – A ordem era vamos estourar tudo, se endividar, hoje é o dia do póóóde, mesmo não podendo (risos). E os amigos lá animando tudo, ajudando a me empurrar para desgraceira. O que todo mundo queria era diversão, não importando as consequências disso.
Do começo ao fim, foi um festival de breguice, puxassaquice e muuuiiita zoeira. Conta piada aqui, sacaneia ali, abusa de lá. Tinha que ter muito barulho e animação. Sem isso não é aniversário. Mas o mais bizarro chegou: o bater palmas de parabéns pra você. Babado! Nem te conto (risos)! Em coro, começou com os meus convidados em minha mesa, que havia reservado com uma semana de antecedência. Uma que ficava bem no centro, visível a todos. Depois todo o restaurante já estava na mesma onda. Gente que nem conhecia e que nunca tinha visto me aplaudia e sorria para mim. Eu transbordando de vergonha e me inflava de satisfação. Consagração! Eu era o cerne da atenção de todos. Star, Um Very Impotant Person genuíno. Simplesmente brilhei. Não! Mais, muito mais. Nada de simplicidade. Glamour, muita luz, muito brilho, muita cor, muito, muito de tudo (risos). Brega era luxo. Tinha gente que fazia bico e virava a cara. Não estava nem aí para eles. Era eu, eu e eu apenas. Egoísmo e vaidade a 800 km/h! Pouco era uma palavra que não queria ouvir jamais naquela hora. Chega de privações. Queria era esbanjar, chutar a lata e gritar para o mundo: EU SOU O CARA! E cachaça para dentro. Tome-lhe água de burro, com direito a discurso e dancinha ridícula em pleno restaurante dos bacanas – pense na farofada (risos).

No dia seguinte, além de dor de cabeça, ressaca moral. Meu Deus, como tive coragem de... (Risos). Já foi, né? Como dizem por aí Inês é morta, Menino. O jeito era concretizar as oportunas palavras de Marta Suplici: relaxe e goze. Goza até gozei, bem no pretérito. O difícil era relaxar. Bem, o que importa é que para o ano tem mais. Outras extravagâncias virão. Então, salta os cachorros, Maria! (Risos).

Diógenes Silva. 17 de maio de 2010.

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