quinta-feira, 10 de junho de 2010

Se conter não! [poema em prosa]

Consigo catar no ar sabor de vida: de que não pertenço a alguém nem a lugar algum; mais que humano, sou existência e estou em ocorrência, permissibilidade de mim em várias perspectivas de direção. Ir, vir, permanecer são leves instantes. Residir é questão de teimosia que logo se sucumbe frente aos caprichos dos sonhos. Desejar expansão é algo que desenha os traços de inconsciente, detentor do poder que controla atitudes ou negação delas. Há forças que constantemente tentam cercear a natureza fluidez, intrínseca ao ser anterior a que me fizeram e que me construo e que me esculpem. O atrito que há na introspectividade choca a idiossincrasia, abala o espelho e traz desestrutura à estabilidade forjada. O mosaico que sou nega a si e aversão surge. Imagem agora é outra, pulula a inquietação, confusa fica a orientação, já não se sabe ao certo o que fazer, especulação é ordem. Sentidos são muitos. Ações poucas. Paralisia. Inércia. Ócio improdutivo. Correntes contrárias tomam fôlego e ora e vez assumem destaque em revestimento exaustivo. Cansa. Basta. Não quero mais a pluralidade. Chega do federalismo. Algum dia terei o uno e assumirei a transitoriedade, renunciando a toda ânsia por posse e co-ocorrendo apenas por meio da singela e imprescindível troca para se suster em cada agora? Ainda não sei. Não domino a razão desse jogo que me faz uma concha saudosista sobre o cimo duma montanha. Ainda ontem pude contemplar o continuo entre luz e lua e lua e sol. Amar é maravilhoso!


DIÓGENES SILVA

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