Cheguei em casa tarde e acabado. Nem pra academia tive saco de ir. Ontem foi um dia daqueles, sabe?! Muita correria e estresse puro. Tudo dando errado, e o dia nem deu pra fazer o queria e o que devia. Desastre! Sem escapatória: dor de cabeça, fadiga e mal humor. Cheguei ao ponto que não tinha mais a que/quem culpar, xingar, mal dizer, reclamar. Então, me resignei, tirei toda a roupa rapidamente, tomei um banho demorado (um quentinho pra variar), comi uma saladinha de frutas com granola e sentei pra ver um pouco de besteirol na TV. O sono não demorou a chegar.
Bocejando interminavelmente, fui pra cama. Despenquei. Comecei a deliciar aquela maravilha macia, geladinha e cheirosa – lençol lavadinho é bom demais. Adoro! Ui, que delícia... – Tudo indicava que seria uma noite maravilhosa; coisa rara! Cheguei a relaxar um pouquinho, mas aí o inconveniente. Começaram a entrar coisas desagradáveis em minha mente sem serem convidadas: pendências, preocupações e vontades frustradas, desejos desejosos e caprichos abortados. Sabia! Tava fácil demais pra ser verdade. Quem disse que o infeliz aqui conseguiu dormir?! Bastei triscar na cama que o sono se desintregou por completo. A mente foi bombardeada por informações muitas e várias. A cabeça fervilhou, e, com ela, todo o corpo se agitou. Já era uma noite agradável de sono... Além de ser escravo das obrigações ordinárias, sou refém do meu pior algoz: a Insônia de todas as madrugadas. Não era à toa que a parte do dia de 24h que mais temo é justamente a noite!
Na cama, que outrora era um paraíso, me vi doido. O corpo se agitou no leito. Ansiedade veio com força. Já foi... Insônia das brabas mesmo é a dona da bola. Joga quem ela quer e como ela quer. É ela que dita todas as regras. Não tinha pra onde correr. Era eu e ela. Briga injusta.
A hora estava passando, o relógio denunciava isso insistentemente, e nada de dormir. Meu querido quartinho parecia mais uma sala de tortura dessas de filme de terror, isso sim. Com muito calor e desconforto, virei prum lado, virei pro outro. Nada. Levantei, tomei outro banho, bebi leitinho morno, voltei pra cama. Olho vivo grudado no teto. Desespero! Precisava dormir, tinha que descansar! O dia já estava vindo e me exigiria repleto de energia.
Ai... Quase enlouqueci. Faltei apenas arrancar os cabelos da cabeça a dentes! – imagine a façanha! (risos) – Fiz de tudo pro sono retornar: contei carneirinho, pensei em comida, recorri a pensamentos positivos, técnicas de terapia e autoajuda, relembrei momentos agradáveis, tentei ler algo e até reza fiz, acredita?! Nada de petiberiba. Tudo que fazia só piorava a insônia maldita, que era retroalimentada pela ansiedade e vontade de querer dormir a qualquer custo. Aí não aguentei mais e levantei com todo ódio e frustração do mundo, me sentindo a pessoa mais injustiçada e infeliz do universo: por que eu? Logo comigo, caramba! Homem honesto, trabalhador e sofrido! Pensava irritadíssimo me fazendo a pessoa mais coitadinha e digna de dó possível – e era mesmo! Sabe o que é querer dormir, e não conseguir de jeito nenhum, vendo a hora passar impotente? Pois é... Pimenta só arde é no C. dos outros.
Teimoso, custei a acreditar que não tinha jeito. Saí da cama, fui na geladeira, peguei algumas guloseimas e acabei na frente da TV outra vez. Nada que prestasse passava na caixinha mágica. Quatro bocejos de tédio e desistência. Com a vigília a mil, resolvi pegar algo pra ler. Folheei desde tese de doutorado em física até revista de fofoca. Eita, seria a leitura mais rica que já tive SE minha cachola tivesse pra raciocínio. Faltava paciência. Apenas um zumbi. Não absorvia nada do que lia; apenas lia por ler. Terminei ainda mais aborrecido, estressado, frustrado e o pior me vendo como o maior incompetente do mundo. Como alguém é tão merda ao ponto de não conseguir fazer uma coisa que é tão simples para milhões de pessoas? Tem gente que dorme até em pé no buzu lotado parado no meio dum engarrafamento, chovendo e, lá dentro, a maior sauna – sem essência de eucalipto é claro! – E eu em casa com todo conforto fazendo malabarismo pra pegar no sono. Tenha santa paciência! Vai ser azarento assim...
A autoestima foi pro buracão mesmo! Eu era o ser mais infeliz, um fracassado. Os olhos percorriam alucinados todos os cantos da casa. Tinha que dormir. A obrigação de ter uma noite de 8h de sono me consumia terrealmente. Várias foram as vezes que pensei em tomar algum ansiolítico. Me contive. Até na morte pensei. Morrer seria o alívio para todo aquele martírio interminável. A sorte que me faltou coragem para consumar a sugestão – uffa... Escapei por pouco. (risos). – Como já tava na merda mesmo, faltando apenas 2 horinhas pra dar 6 da manhã, hora que eu levanto pra me arrumar pra sair, sentei na cadeira da sala e deixei a mente vagabundear à vontade. Pasme: sem esperar, na surdina da surpresa, fui assaltado pelo sono! Acordei às 8h:37min sob os gritos já roucos do despertador insistente, coitadinho (risos). Esse é meu amigo mesmo. Nunca me deixa na mão. Aliás, deixa pensar melhor...
Levantei num pulo. Nem banho tomei, nem comer comi. Mal botei a roupa e zarpei pro trabalho. Lá inventei mil histórias para justificar o atraso: de dor de barriga e disenteria à síndrome do pânico e TOC. Exagerei, confesso. Fui drama grego dos brabos (risos). Fazer o que né? Queria muito que todos me vissem como coitadinho e tivessem pena d’eu – puro dengo e manha de caçula de cinco homens (hehehehe!). – Quem ia levar fé numa insoniazinha? Só quem sofre dela, né? Mas lá são todos dorminhocos. Nunca iriam me compreender.
Aquela foi apenas mais uma noite daquelas que a cada dia (ops, melhor: quase todas as noites) se torna algo trivial em minha vida sofrida (risos). No fim, estava um legume que mal respirava. Talvez um repolho murcho. Não prestava pra nada o resto do dia. Não rendi no trabalho, mal ouvia os outros, não prestava atenção em nada. Paciência? Hummm... Artigo de luxo que eu não tinha como comprar! Patadas foram tantas que eu dei em quem se aproximasse, fosse quem fosse. Raciocínio a 0,0001 km/h, cochilando onde encostava e olheiras maquiando minha cara de defunto, apenas sonhava com a cama traiçoeira. Pra jogar mais água na enchente, a hora não passava. Ô ódio! (risos). A vontade era jogar tudo pra cima e sair correndo quem nem barata fugindo de galinha.
E, finalmente, chegou o fim do expediente. Era a vez de voltar pra casa, mas antes tinha que enfrentar o busão lotadérrimo, o engarrafamento e só depois despencar na cama. Nada comparado à insônia! Já em casa, sobre a cama deliexcitante, dormi como um barco naufragado – brevíssima trégua nessa guerra longe de ter fim. – No dia seguinte, acordei com a cara mais safada, sorrindo. Parecia que havia ganhado um baita prêmio – ganhei mesmo: uma maravilhosa noite de sono. – Pronto: estava de volta para ser vítima outra vez de um dos piores de meus medos: a Insônia.
Diógenes Pereira. Salvador, 20 de abril de 2010.
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