quinta-feira, 10 de junho de 2010

dúvida [TEXTO ABSTRATO]

Dúvida. Às vezes é terreal a ter, outras vezes é maravilhoso a deter. Neste agora eu tenho certeza de que amo. Há uns agoras atrás eu acreditava em outras coisas, muitas, variadas, conflitos, confusão, receio, medo, dúvida mesmo. Eu acredito saber muito bem o que há na minha introspectividade – ressalvas existem, e como! Hora em hora, eu surpreendo e me surpreendo com as entranhas que ocorrem em meu ser. – Posso muito mais que apontar aquele para o qual direciono minha atenção dedicada. De forma contrária, nunca soube, não sei e acho que jamais saberei o que há no interior do outro, mesmo que ele deseje em suposta sinceridade me contar/demonstrar em palavras ou expor de outras maneiras; tudo que o outro fizer em afirmação, negação, omissão, dissimulação, etc fica terminantemente sujeito às minhas experiências, desejos e conveniências, principalmente. Me resta, de início, a angular Dúvida, a qual posso ter por uns breves instantes, por um longo período de tempo finito, por tempo em constância incansável, por tempo sazonal, ou não a ter – será?

Ademais, a Dúvida é potencializada pela mente especulativa. Cometo excessos, cometem-se excessos, cometem excessos, você comete excessos. Talvez tudo não passe de pura fantasia-especulação-devaneio, ou fantasia-especulação-devaneio parcial, ou ainda a cruel factualidade. Certeza talvez jamais! Basta-me crer, duvidar, desacreditar, omitir, compactuar ou ser indiferente a tudo aquilo que me atravessa ou me circunda, tudo que não faz parte diretamente de mim, o outro como eu concebo, e Os Outros como eles são! O que determinará a minha decisão será a inter-relação entre o medo, o desejo, a conveniência, a ansiedade, a frustração, as limitações, a coragem, a ousadia, a vontade de descobrir e experimentar, outros e outras. As atitudes produziram, produzem e produzirão conseqüências nunca unicamente boas ou ruins para mim e os outros. O proveito delas se assenta na permissibilidade transeunte, expressamente complexa, contraditória, enigmática, volátil e muitas vezes ignorada ou subestimada.

Não canso de assinalar que sou eu cativo de uma prisão sem muros, a qual é a minha própria existência. Construído, construindo-me, sendo construído, inserido, me inserindo e sendo inserido, não distancio minha existência do algoz: Os Seres que residem em mim, os quais não fazem parte do Eu meu – creio eu, ou ignoro, ou finjo ante isso. – Por outro lado, mantenho e ambiciono essa prisão. Tenho limites, estou limite, sou limites; isso me faz o que sou e me constrói oposição ao outro. Vida! Existir é mais que complicação, é brincar: delícia de Dores, Risos e Indiferenças. Ai, não posso me esquecer? Pensava que não. Creio agora que posso me iludir ou pelo menos acreditar nisso. Mas por que preciso do Outro, Outros então?

Carência. Não sou todo o alimento que a ocorrência exige. Você é necessário a minhas idiossincrasias, vicissitudes, intempéries, delírios, incursões, especulações, expansões. Me amplio naquele que me traz insegurança e medo. Busco eternamente o suicídio. Quem pode me socorrer? Socorrer de quê? Sou guloso! Desejo, em ânsia desmedida, absolutamente tudo, em consciência, em modorrar ou em estupidez.

Volto à Dúvida. No momento, Ela me castiga. Gostaria de me sustentar sobre um piso aceito pela aquiescência vinda de mim. Amo, disso não existe dúvida. Amo a mim mesmo e amo ao Outro. E é, justamente, esse Amor que me conduz à convergência dos conflitos. Ai, será que o meu Ser Amado me tem sentimento similar? Se tiver... A cada irradiação dele, forjo uma crença. Sonhar nem sempre é bom, nem chorar é esvaziar a alma. Sou incógnita? Também. Sou-estou respostas! Gosto de ver o Mar completar a Terra...

Diógenes Pereira. Salvador, ba 08 de maio de 2008

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